Eleição difícil para o número dois.

Dário Sá

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O que aconteceu ontem é bastante fácil de interpretar e dá sinais sobre o modo de ser e estar na política de André Ventura.

Ontem, a Assembleia da República foi palco de um acontecimento inédito na história da democracia portuguesa. A eleição do Presidente da Assembleia da República, demorou o dia inteiro e terminou sem desfecho, tendo sido necessário adiar os trabalhos para hoje.

A “disputa” foi entre Francisco de Assis, pelo Partido Socialista e Aguiar-Branco, pela Aliança Democrática, constituída pelo PSD, CDS e pelo PPM. Houveram duas rondas de eleições, sendo que a segunda ronda teve segunda volta. Os resultados deram a entender que Francisco de Assis teria uma ligeira vantagem, todavia irrelevante, pois para validar o próximo número dois da democracia Portuguesa, serão necessários 116 votos. Votos esses que se supunham assegurados pelos votos do Chega, mas tal não aconteceu. Porquê?

Bom, creio que é evidente, que André Ventura e Montenegro, devem ter a certa altura acertado que o Chega viabilizaria a candidatura de Aguiar-Branco, todavia o Presidente do PSD foi ingénuo por achar que André Ventura honraria o compromisso. André Ventura está cá para destabilizar e dividir, para que no fim possa reinar. Seja qual cenário for, Montenegro sai fragilizado deste péssimo começo e, como sabemos, é difícil recuperar de uma má primeira impressão.

André Ventura sabe que Montenegro não tem margem de manobra e não vai permitir que a AD governe. É a elação final que se retira desta peça teatral. Neste momento há três forças políticas a disputar o poder e cada uma faz as suas contas para que as suas decisões não caiam mal no eleitorado. André ambiciona desalmadamente pelo poder.

O que André Ventura conseguiu com isto, foi empurrar o Montenegro para o colo de Pedro Nuno Santos. Ambos já estiveram reunidos e deverá sair acordo. Ventura irá agora fazer-se de vítima, vai colar a AD ao PS e vamos estar a chafurdar na lama até às próximas eleições. Vejo com muito maus olhos, uma aproximação dos velhos partidos do arco do poder, todavia como posso censurar Montenegro. O homem não tem escolha.

O que é uma pena, porque Montenegro parece-me ser um líder ponderado, experiente e dialogante. Acredito que poderia ser bom para Portugal ter um governo minoritário da AD, pois sou um forte convicto de que os melhores governos são aqueles que se forjam através do diálogo e do contributo dos vários setores partidários. Quando um partido precisa de dialogar e cooperar, é quando se fazem políticas para o bem comum, porque os interesses pessoais e a corrupção pedem poder absoluto. Quando o poder é condicionado, também a corrupção é condicionada.

Eu sou defensor que uma força política como o Chega é positivo para a democracia, pois expõe os partidos consolidados às suas próprias falhas. No fundo, foi o papel que o PCP teve durante muitas décadas. Se tivéssemos de apontar o maior defeito à nossa democracia, eu diria que são os poderes instalados. PS e PSD já governam sozinhos há muito tempo, é preciso mudança. É preciso que partidos como o Iniciativa Liberal, Livre, PAN e outros, comecem a entrar nas forças de governação. Infelizmente André Ventura deu um sinal preocupante de que precisa de instabilidade para governar e se há coisa que eu prezo é a estabilidade.

Nota negativa para André Ventura.

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